sábado, 17 de outubro de 2009

Os quatro "I"s do fundamentalismo.

Não se deve localizar o fundamentalismo em países e épocas específicas. Pode ser pensada a cultura conservadora religiosa nos Estados Unidos, através de um interpretação literal do texto sagrado, o caráter militante no Islã ou o aspecto moralista farisaico dentro do judaísmo. Apesar de ser considerado um movimento heterogêneo, parece haver uma concordância em termos dos quatro "I"s. O primeiro é a irracionalidade, em termos de não se perceber que muitas das verdades devem ser olhadas dentro de várias perspectivas, para se ter uma justa medida de onde termina o humano e começa o divino. Segundo - muito relacionada com o primeiro -, é a ignorância, através da qual, em nome do sagrado, as instituições humanas criam dogmas, para serem aceitos de modo acrítico, comprometendo a autonomia do ser humano em busca da plenitude, da sabedoria e da felicidade. Terceiro, a intolerância diante da diferença, o que se expressa através de postura etnocêntricas e egocêntricas, que separam os homens em grupos, e em nome do divino, guerreiam entre si. Por fim, a impulsividade, decorrente da soma de todos os ítens anteriores, justificando atos de violência verbal, física e social, incendiando as massas em históricas forcas e fogueiras. Um dos exemplos que se vive hoje no Brasil do começo do século XXI caracteriza-se como um atentado à Constituição do país (afinal homens em sociedade devem ter Leis Magnas), no que se refere ao VI Parágrafo do Artigo 5o, a saber: "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias". Este atentado se afigura na campanha de manipulação entre fundamentalistas no Brasil contra as divindades dos cultos afrobrasileiros, importante componente da formação histórica, social e cultural do nosso povo. Assim, os Inkisses nos cultos bantos de Angola e do Congo, os Voduns dos cultos gêges do Daomé e os Orixás dos cultos nagôs da Nigéria, são importantes arquétipos espirituais, apresentando, como os homens, um lado bom e um lado mau. Infelizmente são de modo irracional, ignorante, intolerante e impulsivo associados a Satã, uma entidade maléfica na tradição judaico-cristã. Creio estar errado: esta campanha tem uma dose de racionalidade e de conhecimento, ou seja, a manipulação em vistas do acúmulo de capital de acordo com os princípios da Teologia da Prosperidade. Parecem que se esqueceram de Jesus Cristo, em frente do Templo de Jerusalém, com sua raiva divina, a gritar que ali era uma casa de oração e não de comércio.

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