quinta-feira, 7 de abril de 2011

Hypatia de Alexandria: Uma mártir pagã


Esta mulher nasceu em Alexandria, no ano de 355. Era filha do filósofo e geômetra Theon, professor de matemática na Escola de Alexandria. Ela fora uma filósofa, astrônoma e matemática pagã, ou seja, não cristã, além de ser professora da mesma Escola. Aos 36 anos de idade, em 391 dC, assistiu à destruição e incêndio da Biblioteca de Alexandria e do Templo de Serápis, uma divindade sincrética greco-egípcia, sob as ordens do Bispo Teófilo, o que poderia ser considerado o verdadeiro início histórico da Idade Média. Teodósio I era o Imperador de Roma, batizado na religião cristã, sendo responsável pela consolidação da hegemonia política da religião que abraçava. Hypatia recolhida à condição de esposa de Orestes, prefeito de Alexandria, continuou com suas pesquisa astronômicas e matemáticas haja vista fazer parte da mesma escola que Euclides (geômetra: século IV aC), Arquimedes (astrônomo, inventor e matemático: século III aC), Calímaco (poeta e bibliotecário: século III aC), Eratóstenes (polímata, ou seja, conhecedor de várias ciências: III aC), Galeno (médico: II dC), Herófilo (médico: II dC) e Ptolomeu (astrônomo: II dC). A única mulher deste grupo fora também diretora da Biblioteca de Alexandria e estudara a obra de Aristarco de Samos, que em III aC havia presumido que os planetas giravam em torno do Sol, utilizando para isso o cálculo trigonométrico. Hypatia vai além, cogitando a possibilidade da órbita dos planetas em torno do Sol ser elíptica, como mostrou o astrônomo e matemático alemão Johann Kepler no século XVII, ou seja, em torno de 1.400 anos depois! Diante de uma prática discursiva silenciadora da mulher, a influência dela sobre o marido e conhecimento da natureza dos seus estudos, instigaram os sentimentos mais perversos em determinados grupos. Isso motivou cristãos enfurecidos, e entre eles monges coptas (pasmem!), a atacarem-na e a arrastarem em pleno rua, no ano de 415, onde foi cruelmente torturada até a morte dentro de uma igreja, segundo Sócrates, o Escolástico. Seu corpo foi dilacerado por conchas de ostras ou cacos de cerâmicas e lançados em uma fogueira. Pensar e ser mulher: verbo e predicado associados com o "demoníaco", havendo interesses relacionados com a dimensão cruel do poder. Para isso, o Demônio do poder consegue seduzir com seus argumentos emocionais (o pathos da retórica de Aristóteles) e quando menos se espera o Mal se instalou e se alastrou como uma normalidade que em seu nome devem ser feitos sacrifícios.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O excêntrico e a água ardente


Estava com familiares saboreando uma deliciosa feijoada da periferia - muitas vezes os melhores restaurantes estão fora dos circuitos turísticos - quando sujeito nos seus vinte e poucos anos pediu um copo de água no balcão. Aparentava ser conhecido por todos. Poderia, enfim, ser definido como um excêntrico que foi objeto de alguma intervenção da instituição psiquiátrica. Olhou para o copo de água e pegou em uma das mesas, uma garrafinha dessas pimentas que estimulam os prazeres masoquistas dos glutões. O rapaz não poupou as gotinhas ricas em capsaicinóides, substância de nome também excêntrico e que produz a sensação de arder na boca, e olhou para mim. Houve uma comunicação não verbal. Eu questionava por que ele fazia aquilo e ele se aproximou de mim e respondeu: - Sabe o que é isso? Eu continuei respondendo não em silêncio e ele me respondeu: - Água ardente. Enfim: água ardente ou água de fogo. Nesse momento, seria habitual que se risse do chiste, daquilo que é inesperado. Entretanto, o que houve foi uma atitude professoral da parte dele. Imagens que se juntam umas às outras e que de acordo com os contextos podem apresentar os sentidos mais diversos. Ele, proibido por Apolo de fazer uso dos líquidos sagrados de Dionísio, pode se embriagar de poesia concreta. Água ardente era uma metáfora ou seria a aguardente das indústrias a verdadeira metáfora? Que coisa é essa escorregadia, cujos sentidos deslizam como vasos comunicantes? Para mim, aquele sujeito não estava na posição de louco, mas de alguém que abriu caminhos de sabedoria através de uma linguagem alegórica que ensinou sobre a natureza de um fenômeno muito mais social do que natural chamado de linguagem humana.

domingo, 2 de janeiro de 2011

A esperança e 2011


A palavra esperança significa um sentimento de quem vê como possível aquilo que deseja. Dentro do cristianismo, essa espera confiante está associada à fé, que envolve uma crença plena e à caridade, associada ao amor a si mesmo, ao outro e a Deus, o Grande Espírito. Em nossa tradição ocidental, as comemorações do Ano Novo ocorrem desde 1582, quando o Papa Gregório XIII determinou a data para 1o de janeiro. Independentemente dos relativismos históricos, existe a força do simbolismo neste ritual. Trata-se de um momento de revolução, não naquele sentido político ou mesmo científico de ruptura dos paradigmas, mas de um crescimento existencial quando os sujeitos podem voltar ao ponto de partida e começar tudo de novo, em uma outra perspectiva, mais madura e consolidada. Se os objetivos não foram atingidos, seria importante não culpabilizar os outros e ter a serenidade da autocrítica. Se eles foram atingidos, saber compartilhar esses resultados para que não se fique intoxicado de si mesmo. Durante esse ritual, as pessoas se reencontram e podem entre abraços e votos de fortuna e felicidade, reparar o que precisa ser reparado para que a dívida não cresça. 2011 é o ano da primeira mulher presidenta do Brasil. A imprensa francesa, inglesa, espanhola, norteamericana, entre outras, voltam os olhos para esse fato e para a pergunta fundamental: haverá continuidade do modelo político do ex-presidente Lula? A esperança significa confiar no sucesso em benefício do povo brasileiro, a quem foram dirigidas políticas sociais. No final da ano de 2011, poderá se ter alguma noção de que essa esperança foi gratificada ou não. Talvez a presidenta não tenha o carisma discursivo do ex-presidente Lula, mas nos espaços das articulações políticas e das reuniões técnicas, creio ter a sagacidade e sensibilidade de quem deseja Paz ao Mundo. Este Mundo começa em nossa casa, nosso vizinho e com o nosso povo.

sábado, 28 de novembro de 2009

Bárbara:Uma filha de Yansã.

Yansã é uma orixá nagô que detém poderes sobre os raios, a tempestade e o trovão, e historicamente foi a esposa de Xangô, ao mesmo tempo rei dos Yorubás e importante orixá dessa nação. Bárbara é filha de Yansã. Nascida de família do sertão de Pernambuco, veio estudar Engenharia na capital. Ao se graduar com 22 anos de idade, casou-se com outro aluno de Engenharia, nascido de tradicional família da cidade de origem de ambos, para quem devotava uma intensa paixão. Ambos tinham personalidade forte e ao longo do relacionamento, quando o marido se distanciava sexualmente, o fato gerava brigas nas quais ela chegava a arranhá-lo e quebrar objetos dentro de casa. Como ganho secundário, havia um intercurso sexual. Profissionalmente, ela trabalhava numa importante empresa da construção civil e conseguia fazer uma reserva financeira. Não tinha medo de investir na Bolsa de Valores, havendo grandes lucros e grandes perdas, sempre sem perder a audácia. Na vida a dois, Bárbara não pedia que seu esposo usasse uma determinada roupa, não solicitava que ele comprasse algo para casa, não sugeria que fossem a um restaurante específico, simplesmente ela dava ordens. Esse modo era contestado e novas brigas surgiam, terminando sempre em novos intercursos sexuais. Enquanto isso, na empresa chegara um novo engenheiro, vindo do Sul do país, que se impressionara com a beleza e sensualidade de Bárbara. Inicialmente, ela ficou constrangida e aos poucos permitiu conversar, almoçar, passear, em tempo breve, até ter relações com o mesmo. Gostou da experiência e passou a repeti-la, com outros parceiros, esporadicamente. Nesses momentos em que também estava apaixonada por outros homens, se o marido chegasse em casa atrasado, novas discussões surgiam por ela querer saber onde ele estava, com quem estava, o que estava fazendo, enfim, tendo crises intensas de ciúme. O casal se amava do modo mais intenso que um homem e uma mulher poderia se amar.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Jorge: Um filho de Ogum.

Ogum é um orixá da nação nagô que é representado como o Deus da guerra, do fogo e da tecnologia. Jorge tem 43 anos e é filho de Ogum. Trabalha como segurança numa empresa multinacional. Alguns colegas o invejam por conta do prestígio que tem junto às chefias. Especialmente um deles, Jorge não sossegou até ter ficado frente a frente com o mesmo, num espaço fora da empresa, indagando porque esse colega espalhara o boato de que Jorge fora trabalhar levemente bêbado. Era mentira e o colega mentiu ao dizer que não tinha mentido. Jorge não engoliu o sapo e ficou pensando, até que ao sair de moto do estacionamento da empresa, viu a moto do colega e a derrubou com os pés, quebrando parte dela. Chamado pela chefia, Jorge olhava de cima, com uma expressão de arrogância e assumiu o seu erro, mas achava que o canalha do colega tinha merecido. Os chefes quiseram perdoá-lo, desde que assumisse as despesas do conserto. Ele assumiu as despesas e pediu demissão. Os chefes relutaram e ele insistiu. Encontrou-se com seu colega e pagou os custos do conserto. Em casa, soube que receberia uma boa indenização e que tinha carta de referência para outra empresa, com possibilidade de ganhar um salário melhor. Nisso toca o celular, e a secretária de um dos chefes comenta que aquele colega está novamente lhe difamando, dizendo que ele saiu do emprego por causa de um desvio no almoxarifado, que Jorge encobriu. Retornando ao estacionamento, tendo entrado em função das amizades, Jorge novamente se encontra com o colega subindo a moto e desta vez não foi a moto derrubada, mas o próprio colega coberto de tabefes e murros bem dados. Jorge foi preso e solto com fiança. O colega hoje pensa duas vezes antes de falar mal de alguém.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A infância nossa de cada um

O poeta Manoel de Barros escreveu: "As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças". O vídeo e o vento da Viçosa das Alagoas trazem um nome que esqueci, algo que de modo polissêmico retrata o invisível do visível, a grandeza do pequeno e a cura do medo das almas, porque elas são boas, belas e justas.

domingo, 25 de outubro de 2009

Bartolomeu: Um filho de Exu.

Na tradição afrobrasileira, Exu é o nome de origem nagô, para a mesma entidade banto denominada Bambojira ou a entidade gêge, no caso Elegbá. É um mensageiro entre os homens e os orixás, senhor das encruzilhadas, concedendo apoio a quem constantemente lhe oferece sacrifícios ou então, dificultando os caminhos. Bartolomeu é filho de Exu. Tem 32 anos e trabalha como funcionário de uma empresa de informática. Solteiro, é capaz de apoiar quem precisa de dinheiro emprestado ou oferecer um ombro amigo, entretanto, em nome dos seus interesses não tem escrúpulos nos seus meios para atingir os fins. Gosta de farras e não tem controle no comportamento, chegando a ter inúmeras relações sexuais com pessoas de quem desconhece o próprio nome. Tem amigos que confiam nele, todavia e reiterando, pode "usar" essa amizade de modo mais pragmático do que ético. Existe uma sensibilidade para compreender o problema dos outros, porém prioriza os seus planos em relação aos demais. Em função desses interesses pessoais ou profissionais é hábil em articular intrigas e complôs visando colocar no poder quem deseja ou derrubar aquele de quem discorda. Gosta que reconheçam o seu trabalho e lhe agradeçam pelos seus esforços de ajudar as pessoas.